Doenças sexuais

Doenças Sexualmente transmissíveis

Conceição Sardinha e Jorge Veríssimo

 

 

As doenças sexualmente transmissíveis (DST) representam um importante problema de saúde pública a nível mundial, e provocam uma significativa mortalidade. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima em 250 milhões o número de novos casos de DST por ano, em todo o mundo.

Um pouco de história para tentarmos perceber quando apareceram as doenças sexualmente transmissíveis.

Os Gregos e os Romanos já escreviam sobre as doenças relacionadas com o contacto sexual, e em 2637 AC. O imperador chinês Huang Ti já as mencionava nos seus manuscritos. A sífilis foi tornada publica em 1530 por um poeta chamado Jerónimo Fracastori, a partir do século XVI esta espalhou-se rapidamente pela Europa, e considerada durante dois séculos a única doença venérea, com a descoberta da penicilina em 1922 a doença quase desapareceu, mas actualmente estas têm vindo a propagar-se cada vez mais.

Existem variados tipos de doenças transmissíveis, neste trabalho nós vamos falar sobre algumas:

Ø Gonorreia

 A Gonorreia é uma Doença Sexual Transmissível causada por uma bactéria (Neisseria gonorroheae). Pode afectar o colo do útero da mulher e também a uretra do homem, podendo expandir-se para a região anal.

Os sintomas:

Inflamação do colo do útero, transtornos menstruais, uretrite no homem, secreção amarelada. Aparece um ardor e um pus acinzentado ou esverdeado, através do pénis ou da vagina, entre 15 a 30 dias após o contágio. Também se pode sentir dor ao urinar.  

É transmitida por:

Contacto sexual, roupa interior que foi utilizada por outras pessoas, toalhas utilizadas por outras pessoas, e que não foram lavadas antes de serem utilizadas novamente.

As consequências:

Esterilidade, inflamação da pélvis, e possível cegueira do recém-nascido.

 

Ø Sífilis

 

A Sífilis é uma Doença Sexualmente Transmissível causada por uma bactéria (Teponema pallidum). Pode afectar qualquer pessoa.

 

Os sintomas:

A Sífilis é uma Doença Sexualmente Transmissível que tem 3 estágios de desenvolvimento. No primeiro provoca feridas nos genitais, na segunda fase, apresenta manchas nos pés e mãos e na terceira, pode evoluir provocando cegueira, paralisia, doenças cardíacas, neurológicas e até a morte.


É transmitido por:

Nas relações sexuais, da mãe para o bebe na gravidez, e nas transfusões de sangue que não foram analisadas.

 

AS consequências

Provoca lesões no sistema circulatório e nervoso. Malformação ou morte do recém-nascido.

 

Ø Uretrite e vulvovaginite

 

É um corrimento acinzentado, espumoso, com cheiro a peixe.

Os sintomas:

Nos homens, provoca dor ao urinar.

 

É transmitido por:

Contacto sexual, por roupa interior mal lavada, toalhas que foram utilizadas por outras pessoas e que não foram lavadas.

 

As consequências:

Artrites, infecções nos olhos, na pele e boca.

 

 

Ø Herpes genital

 

A Herpes Simplex é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST) causada pelo Vírus Herpes Simples (HSV). O HSV-II (2) normalmente origina úlceras nos órgãos genitais (vagina, pénis, ânus) e na pele à volta destas áreas. O HSV-I normalmente origina efeitos semelhantes na boca.

Os sintomas

 O primeiro episódio é geralmente o mais grave. O homem pode ter os ganglios inchados, febre, dores de cabeça, e lesões vesiculares. Estas lesões evoluem para úlceras passados alguns dias. Ao fim de 2 a 3 semanas saram naturalmente.

 As recorrências são quase sempre menos incomodativas, curtas e não são tão severas como o primeiro episódio. Entre 30 a 70% das pessoas infectadas têm recorrências.

 Como outros vírus, o HSV mantêm-se no corpo durante toda a vida. Basicamente, o HSV hiberna nos nós nervosos quando não causa sintomas.

As recorrências são frequentemente associadas ao stress, fadiga, falta de sono, menstruação, exposição ao sol, fricção genital (novo parceiro sexual após um período de tempo sem relações) se bem que estas associações não estejam devidamente estudadas. Algumas pessoas tem ardor ou comichão no local das úlceras antes de estas aparecerem.

Normalmente as recorrências são mais frequentes no primeiro ano após o primeiro episódio. Em algumas situações as recorrências acontecem em locais diferentes do corpo, pois quando o vírus é reactivado no seu nó nervoso, este segue num conjunto de nervos diferentes até á pele.

 

É transmitido por:

Lesões vesiculares nos órgãos genitais externos. 70% dos novos casos são originados por pessoas que não tiveram sintomas.

 O HSV-II é normalmente transmitido da área genital de um dos parceiros sexuais para a área genital do outro. É raro haver transmissão de HSV-II para a boca. Infelizmente o HSV-II pode ser transmitido para um parceiro sexual mesmo quando não existem úlceras. Isto acontece quando o vírus está presente na pele mesmo sem sintomas visíveis.

O HSV-I pode ser transmitido para os órgãos genitais do parceiro sexual através de sexo oral, algumas vezes mesmo quando não existem úlceras. O HSV-I nos órgãos genitais normalmente origina muito poucas recorrências.

 

As consequências

Pode contagiar o feto. Aumenta o risco de cancro do colo do útero.

A Herpes raramente é uma infecção grave ou perigosa. Independentemente da gravidade dos sintomas, a herpes genital causa frequentemente psychological distress nas pessoas que sabem estar infectadas.

Mulheres grávidas que tenham o primeiro episódio de herpes genital perto do parto podem transmitir o vírus para o recém-nascido o que pode ser muito problemático. Felizmente a infecção de um recém-nascido é rara em mulheres com recorrências dos herpes genital.

 As úlceras podem ajudar na transmissão do VIH, o vírus que origina a SIDA. Uma pessoa com úlceras de Herpes pode ser mais susceptível de ser infectada pelo VIH quando exposta a um parceiro seropositivo. De forma semelhante um indivíduo com VIH e herpes terá quantidades superiores de VIH nas úlceras o que pode aumentar o risco de contágio de ambas as doenças ao seu parceiro sexual.

Se o fluido de uma úlcera de herpes (oral ou genital) for passado para os olhos (por exemplo pelas mãos após tocarem uma úlcera e depois tocarem um olho) podem ocorrer danos permanentes na córnea.

 

Ø  Hepatite

Os três tipos mais comuns de vírus de hepatite são os tipos A, B e C (existem também a D e E). Estes vírus podem ser transmitidos de diversas formas incluindo via sexual. Todos os vírus de hepatite podem causar inflamação do fígado, falha no fígado, cancro no fígado e morte. A hepatite B é a causa de cancro no fígado mais comum no mundo.

 

Como é transmitida?

A hepatite A é normalmente difundida através de comida contaminada, água ou fezes, através de falta de cuidado na lavagem das mãos ou por fornecimento de água contamina. A hepatite A é também transmitida através de sexo oral/anal. Mariscos originários de zonas com água contaminada que sejam comidos crus ou não cozinhados adequadamente podem também ser origem de uma infecção de hepatite A. É altamente contagiosa e pode-se transmitir rapidamente através do contacto do dia-a-dia numa habitação.
A hepatite B é o tipo de hepatite víral transmitida sexualmente mais comum. As pessoas que partilham ou usam agulhas contaminadas com sangue podem ficar infectadas. É possível o contágio por via sexual devido ao contacto com fluidos corporais (sangue, saliva, sémen e secreções vaginais). Os recém-nascidos podem ser infectados à nascença pelas mães. Devido aos controlos mais eficazes, é raro o contágio através de transfusões sanguíneas.·
A hepatite C foi recentemente identificada como uma importante causa de doença crónica do fígado e de cancro do fígado. A hepatite C afecta cerca de 3% da população mundial. Indivíduos que partilham ou usam agulhas contaminadas com sangue ou equipamento de injecção de drogas (agulhas, algodão, colheres) podem ser infectados sendo que, em Portugal, quase 100% dos viciados em drogas injectáveis há mais de 10 anos são portadores do vírus. Outros potenciais vias de transmissão são as erosões do nariz quando é inalada a cocaína, tatuagens e piercing. Até este momento o maior número de casos de hepatite C na população em geral parecem ser devidos a transfusões de sangue contaminado (embora a origem seja impossível de identificar em 40% dos casos), no entanto as técnicas actuais permitiram diminuir drasticamente o risco de contágio das hepatites B e C por esta via. Não é comum a infecção através da via sexual nem da mãe para os filhos excepto em situações de elevada carga víral, o que pode acontecer em doentes VIH positivos. Actualmente não existem recomendações particulares para o uso de preservativo por doentes com hepatite C, se bem que existam outras razões mais genéricas válidas para o uso de preservativos.
No caso de uma picada de agulha (pessoal de saúde) os riscos de infecção são aproximadamente de 30% para a hepatite B, 3% para a hepatite C e 0,3% para o VIH.

 

Quais os sintomas?

Em todos os três tipos (hepatite A, B, C) a gravidade e tipos de sintomas variam significativamente de indivíduo para indivíduo. Podem incluir fadiga, dor abdominal, pele ou olhos amarelados, urina escura, fezes com cor clara e febre. Os sintomas podem ser breves ou durarem algumas semanas. Os sintomas normalmente aparecem duas a seis semanas após a infecção. A maioria dos indivíduos não tem consciência da sua infecção porque não tomam conhecimento dos sintomas até que tenham uma falha do fígado ou cancro no fígado. No caso particular da hepatite C cerca de 70 a 80% dos doentes não tem qualquer sintoma.

As Consequências

Lesões hepáticas, hepatite, cirrose. Sangue, esperma, secreção vaginal, via placenta, leite materno, saliva. Produz graves problemas no fígado. Pode causar a morte.

 

 

Ø Candidíase

Causada por um fungo, Cândida albicans, que faz parte da flora vaginal.

 

Os sintomas:

Produz corrimento branco, com grumos (lembra leite coalhado), acompanhado de prurido intenso e ardor à micção. Nos homens, normalmente, não há manifestações da doença, e quando existem provocam comichão moderada no pénis, e secreção semelhante à da mulher.

 

É transmitida por:

É provocada pela gravidez, pelo stress, e pelo uso de uso de alguns antibióticos, pela diabetes diabetes, e pela diminuição da imunidade.

 

As consequências:

Os recém-nascidos de mães com candidíase vaginal freqüentemente apresentam lesões na boca, conhecidas popularmente como o "sapinho"

 

Ø Pediculose púbica · (chatos)

 

A Escabiose é originada por um ácaro (Sarcoptes scabiei na variedade Hominis) que penetra na pele e aí deposita os seus ovos.

A Pediculose Pubiana (vulgarmente conhecida por "Chatos") foi identificada à séculos sendo originada por pequenos piolhos (Phithirus pubis) e respectivas lêndias. Para alguns autores é a mais contagiosa das doenças sexualmente transmissíveis.

Como se transmitem?

São normalmente transmitidos durante as relações sexuais. Podem também ser apanhados ao partilhar roupa, cama, mobília antiga forrada ou acolchoada, almofadas ou toalhas que tenham sido usados por uma pessoa infectada.

 

As consequências

Lesões na pele, picadelas na zona púbica. Sem consequências se desparasitar a pele e desinfectar a roupa em água a ferver.

 

Ø Cancro mole

O Cancro Mole (também conhecido como Cancroide ou Cancro Venéreo) é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST) causada pela bactéria Hemophilus Ducreyi. Podendo afectar homens e mulheres.

 

Os sintomas:

 

Nos homens:
Úlceras dolorosas ou não no pénis, à volta dos testículos ou no recto. Dor ou inchaço nos testículos. Dor ao executar movimentos de grande amplitude com as pernas.

Na mulher:
Úlceras dolorosas ou não á volta ou no interior da vagina ou recto. Dor ao urinar ou defecar. Dor ao executar movimentos de grande amplitude com as pernas. Raramente podem ser encontradas lesões nos seios, dedos, coxas ou na boca.

 

É transmitido por:

 

O Cancro Mole transmite-se de pessoa para pessoa durante sexo anal, oral ou vaginal.

As consequências

Se não forem tratadas as lesões podem crescer e tornar-se muito difíceis de tratar. As lesões também podem ser uma porta de entrada mais fácil para outras DSTs. Como tal o diagnóstico e tratamento atempado são importantes.

 

Ø  SIDA

 

A Síndroma da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST) sendo a fase final da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH). Este vírus ataca as células responsáveis pela

protecção do corpo a infecções destruindo o sistema imunológico. É esta falta de protecção que leva à morte devido a doenças oportunistas.

Como se transmite?

O VIH pode ser transmitido pelo sangue, sémen e outros fluidos humanos. Normalmente a via de transmissão é o sexo anal ou vaginal e a partilha de utensílios infectados com sangue. Também é possível o contágio durante o sexo oral. Um número importante dos casos iniciais de infecção foram devidos a sangue e produtos derivados (principalmente os hemofílicos) mas os testes actuais diminuíram drasticamente as infecções por esta via. Se bem que inicialmente fosse considerada uma doença dos homossexuais actualmente o maior número de infecções é devido a sexo entre homem e mulher. O vírus não se transmite através do contacto social do dia-a-dia incluindo o beijo.
No caso de uma picada (pessoal de saúde) os riscos de infecção são aproximadamente de 30% para a hepatite B, 3% para a hepatite C e 0,3% para o VIH.

Quais os sintomas?

Embora a infecção seja muitas vezes acompanhada de sintomas como febre ligeira e dores de cabeça os mesmos são normalmente demasiado suaves para serem tomados em conta. Alguns sintomas (que podem só aparecer passados vários anos da infecção inicial) possíveis são perda de peso sem explicação aparente, infecções recorrentes, náuseas, problemas intestinais, aumento persistente dos gânglios linfáticos. O VIH é diagnosticado através de testes que detectam a presença de anticorpos no sangue. A detecção de anticorpos no sangue pode não ser possível mesmo após 6 meses da infecção. Este teste pode ser pedido pelo médico assistente mas também já existem centros de testes anónimos.

As consequências:

Provoca anemia, febre, perda de peso, alterações imunitárias, transmite-se ao feto, provoca infecções generalizadas e a morte.

 

Ø Dados e Factos sobre o VIH/SIDA em Portugal e no Mundo

Desde 1981, mais de 25 milhões de pessoas morreram de SIDA em todo o mundo. Só no continente africano mais de 11 milhões de crianças ficaram orfãs devido à epidemia.

Em Portugal, são cerca de 14 mil o número de pessoas doentes de SIDA, num total de 32.491 mil casos de infecção que se registaram desde 1983.

 Os últimos dados mundiais foram publicados pela UNAIDS, agência das Nações Unidas para o VIH/SIDA, em Agosto de 2008 e reportam-se ao ano de 2007. O quadro que apresentamos sintetiza as estimativas mais representativas desta epidemia.

Estimativas globais (Fonte: UNAIDS)

2007

Estimativa

Número de pessoas que vivem com VIH/SIDA 

33.0 milhões

Número de adultos que vivem com VIH/SIDA

30.8 milhões

Número de mulheres que vivem com VIH/SIDA

15.5 milhões

Número de crianças que vivem com VIH/SIDA 

2.0 milhões

Número de novos casos registados 

2.7 milhões

Número de novos casos em crianças

0.37 milhões

Número de mortes por SIDA

 2.0 milhões

Número de crianças que morreram de SIDA

0.27 milhões 

   

Infecção VIH/SIDA: situação em Portugal  de 2007,  

 "A 31 de Dezembro de 2007, encontravam-se notificados 32 491 casos de infecção VIH /SIDA nos diferentes estados de infecção. A análise, segundo os principais aspectos epidemiológicos, clínicos e virológicos é apresentada, neste documento, separadamente, para cada estado da infecção, por corresponder a situações distintas.

Como elemento comum a todos os estados, verifica-se que o maior número de casos notificados (“casos acumulados”) corresponde a infecção em indivíduos referindo consumo de drogas por via endovenosa ou “toxicodependentes”, constituindo 43,9% (14 252 / 32 491) de todas as notificações, reflectindo a tendência inicial da epidemia no País.

O número de casos associados à infecção por transmissão sexual (heterossexual) representa o segundo grupo com 38,8% dos registos e a transmissão sexual (homossexual masculina) apresenta 12,0% dos casos; as restantes formas de transmissão correspondem a 5,3% do total.

Os casos notificados de infecção VIH/SIDA, que referem como forma provável de infecção a transmissão sexual (heterossexual), apresentam uma tendência evolutiva crescente. No segundo semestre de 2007, a categoria de transmissão “heterossexual” regista 57,2% dos casos notificados (PA, Sintomáticos não-SIDA e SIDA).

O total acumulado de casos de SIDA em 31 de Dezembro de 2007, era de 14 195, dos quais 463 causados pelo vírus VIH2 e 189 casos que referem infecção associada aos vírus VIH1 e VIH2.

O melhor método de se ficar livre das DST é a prevenção, isto significa sempre o uso de preservativos em todas as relações sexuais e a adopção de práticas de sexo mais seguro.

 

 Conceição Sardinha e Jorge Veríssimo

18 de Outubro de 2010